Tecnologias da informação e manipulação da imagem
O século XX foi marcado por um grande desenvolvimento tanto tecnológico quanto científico, que resultou em alterações nas formas de comunicação. Isso permitiu que barreiras espaciais, como a distância e o tempo, fossem quebradas, tornando o fluxo e a transmissão de informações cada vez mais rápidos. Entretanto, deve-se ressaltar que nem todas as regiões apresentam o mesmo grau de interação, sendo que algumas delas, por questões econômicas e sociais, ainda permanecem isoladas. Esse fato acentua os problemas de integração populacional em regiões historicamente excluídas e, assim, uma parcela significativa da população fica à margem das novas formas de interação.
Esse desenvolvimento tecnológico é acompanhado, também, pela criação de softwares cada vez mais modernos capazes de manipular imagens. Entretanto, essa manipulação não ocorre apenas por meio de programas digitais, sendo que antigamente já era possível remover ou adicionar elementos a partir da manipulação de negativos. Um exemplo disso é a famosa foto de discurso de Lênin na União Soviética em que Trotsky foi removido posteriormente. Atualmente os softwares de edição, como o Photoshop, oferecem diversas ferramentas para modificar uma fotografia, o que não existia anteriormente, e isso dificulta a diferenciação entre o que é real ou não e, assim, pode ser gerada uma conotação diferente daquela que foi proposta inicialmente. Dessa forma, a fotografia traz consigo uma intencionalidade, a qual pode ser definida mesmo que não haja uma manipulação digital, pois até mesmo o ângulo de uma cena pode alterar o contexto, como ocorrido na foto divulgada em abril do Ceasa de Belo Horizonte que mostrava um pátio vazio enquanto os demais locais estavam abastecidos normalmente com alimentos, sendo que esse recorte da realidade é capaz de influenciar posicionamentos, pois um texto não verbal, como a foto, possui um significado próprio.
Nesse sentido, em um ambiente digital, onde a comunicação está diretamente atrelada às redes sociais e ao compartilhamento de fotos e vídeos, a manipulação de imagens provoca uma falsa ideia sobre a realidade. Isso ocorre inclusive com o conteúdo propagado pelos influenciadores digitais em aplicativos, como o Instagram, uma vez que eles vinculam às suas redes apenas aspectos positivos do cotidiano como se aquilo fosse a realidade de suas vidas. O resultado disso são comparações, por parte dos seguidores, com estilos de vida completamente diferentes e manipulados para parecerem perfeitos.
Além disso, a manipulação da imagem está fortemente atrelada à propagação de estereótipos de beleza que definem um “corpo ideal”, também difundido pelos influenciadores digitais. Contudo, esse é um ideal de beleza irreal, que deixa de lado os diversos traços físicos da população e valoriza determinados aspectos em detrimento de outros e, assim, não gera representatividade a maioria das pessoas. Desse modo, uma parcela significativa da população busca se adequar a esse padrão e para tanto recorre a tentativas de emagrecimento a qualquer custo e procedimentos estéticos, ao passo que esses influenciadores digitais perpetuam a ideia de que para alcançar esse ideal de beleza basta ter perseverança. Entretanto, os corpos vinculados às propagandas e postagens são muitas vezes o resultado da manipulação digital e isso pode gerar distúrbios alimentares e psicológicos, como bulimia e depressão, na tentativa de atingir o padrão estabelecido que, apesar de parecer real, é algo inatingível.
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